Nesta madrugada de sexta para sábado, após uma transição neurológica, como disse o querido Alex, cá estou eu de volta ao Bloguerreiros. Estou super lisonjeada e gostaria de agradecer todos vocês por isso.
Mas como nem só de nhém, nhém, nhém vive o homem...
Como muitos sabem, o Pan tem seu encerramento em 29 de julho, certo? ERRADO! Na verdade, é que os jogos sairão de cena e abrirão portas à literatura.
A partir de 1º de agosto, o evento "Impressões Pan-Americanas", promovido pela Fundação Cultural de Curitiba, contará com a presença de escritores e editores de revistas de arte e literatura das três Américas, falando sobre como é produzir uma publicação alternativa de cultura em inglês, espanhol ou português.
As revistas Tse-Tsé (Argentina), Plátano Verde (Venezuela), Rattapallax (América do Norte) e Blanco Móvil (México) estarão representadas no evento, assim como Et Cetera, Coyote e Oroboro, do Brasil. E até outubro, em quatro diferentes encontros, tais países debaterão o diálogo a partir da literatura, as políticas culturais e o contexto a que se inserem.
Paulo Sandrini, curador do projeto e membro do conselho editorial da Et Cetera, fala, numa entrevista para a Revista Cult, sobre o objetivo do encontro e como anda a situação das publicações literárias no Brasil e em toda a América.
CULT - Como surgiu a idéia de fazer esse encontro?
Paulo Sandrini - A idéia inicial é do Fábio Campana, editor de uma das principais revistas brasileiras de literatura e arte em atividade, a Et Cetera, da Travessa dos Editores. Desde o início, a revista buscou diálogo com a América Latina e o mundo, publicando textos de escritores como Jozé Kozer, Eduardo Milán, Shuntaro Tanikawa, Augusto Roa Bastos, Ana Hatherly, Roberto Echavarren, Reynaldo Jiménez e tantos outros. A Et Cetera sempre se manteve a par da produção contemporânea estrangeira, mas nunca deixou de dialogar com a produção nacional, tendo passado por suas páginas muitos dos nomes em ascensão na atual literatura brasileira, além de gente consagrada. E desde o início foi surgindo também um diálogo direto com outras revistas, como a argentina Tse-Tsé, a norte-americana Rattapallax, que inclusive já publicou um número especial com poesia brasileira contemporânea, e com escritores e conselheiros editoriais de outras publicações. Foi esse contato, a partir da Et Cetera, entre produtores afins (o que inclui gente daqui - o pessoal da Coyote, da Oroboro, da Inimigo Rumor e da Sibila) que, creio eu, acendeu a chama do projeto Impressões Pan-americanas, a culminar num evento que abrirá espaço para o diálogo mais próximo entre os editores, que também, e sobretudo, são escritores. E o melhor: o diálogo será acessível ao público. Eu, como membro do conselho editorial da revista Et Cetera, e por isso mesmo com certo contato com esses editores de fora e um bom contato com algumas revistas daqui, fui convocado para fazer a curadoria do "Impressões Pan-americanas" e formatá-lo como evento, dando-lhe o nome que está aí, dando-lhe rosto.
CULT - Qual é o objetivo do evento?
P.S. - O objetivo é abrir espaço (físico mesmo) para que essa produção cultural alternativa seja debatida e vista pelos interessados em saber mais sobre como se produz os veículos que têm a importante tarefa de fazer o registro daquilo que acontece em uma determinada época da produção literária, ou seja, um registro pulsante, vivo, que acontece ao mesmo tempo em que nasce essa produção toda. Os objetivos do "Impressões" são discorrer sobre o diálogo pan-americano a partir da cultura alternativa, discorrer sobre resistência cultural, pois todas essas publicações vivem praticamente sem patrocínios ou de leis de incentivo, sobre parte da história das revistas nas três Américas, sobre políticas culturais, poéticas, tradução, intercâmbio, revelação de novos talentos, a experiência dos escritores a partir dessas publicações e o lugar das revistas impressas frente à era digital.
CULT - Como está o cenário de revistas literárias nos outros países da América?
P.S. - O cenário, pelo que tenho visto, é bastante fértil. Há revistas, e boas, em todas as partes. Uma surpresa é o Peru, que tem uma produção considerável de revistas impressas como a Hueso Humero, Ginebra Magnólia, Intermezzo Tropical, Manofalsa, Lhymen e Lienzo. A Argentina também tem uma boa produção. Lá temos, por exemplo, a Tsé-Tsé, a Pisar el Césped, a Musica Rara e a Grumo, que é uma edição Argentina/Brasil. O México tem a resistente Alforja, que dura cerca de quinze anos, a Blanco Móvil, a Líneas de Fuga, a El Poeta y su Trabajo e algumas outras. Não dá para esquecer da Venezuela, de onde virá para o "Impressões" o editor da Plátano Verde, uma revista de cultura que trata a literatura em sua mescla, justaposição e diálogo constante com outros gêneros artísticos e com a cultura urbana, além de ter um projeto gráfico interessantíssimo - uma revista pouco ortodoxa, em todos os sentidos, e na qual você encontra ainda escritores do calibre de César Aira, Enrique Vila-Matas, Juan Villoro, Mario Bellatín, Efraim Medina Reyes, Fernando Iwasaki e Alan Pauls. Nos Estados Unidos, não podemos nos esquecer da Rattapallax, da Mandorla e da HPR (Hispanic Poetry Review), por exemplo.
CULT - E no Brasil?
P.S. - No Brasil, não creio que seja tão diferente. Atualmente podemos contar com excelentes publicações: Coyote, Oroboro, Et Cetera, Sibila, Ficções, Inimigo Rumor e a novata Entretanto, que surge com o projeto de abrir um diálogo regional a partir da produção literária contemporânea do Pernambuco, mas que certamente buscará uma ponte com outros países por conta da facilidade dos diálogos via internet. Temos ainda a Crispim, a Ácaro, a Caos Portátil, a Babel, a Carioca, a Revista de Autofagia, a Poesia Sempre (que já dura 12 anos e é publicada pelo Ministério da Cultura, daí talvez sua longevidade) e a Revista da Mercearia. O interessante é ver a diversidade que as revistas oferecem, as linhas editoriais que abrem tantas frentes de pensamento sobre literatura e arte contemporâneas.
CULT - Estas publicações contribuem para o diálogo entre os países?
P.S. - Certamente elas contribuem para o diálogo, mas pela própria natureza do diálogo artístico e literário as fronteiras se tornam muito mais porosas. Talvez porque o que tenha maior valor aqui sejam as afinidades intelectuais e estéticas muito mais que as territoriais. O próprio "Impressões Pan-americanas" é fruto de um diálogo já existente entre os produtores dessas publicações que estarão representadas em Curitiba. O que o nosso encontro está fazendo é simplesmente abrir a discussão para que os interessados possam ouvir dos próprios produtores qual a relevância de seus projetos editoriais e então, de perto, ver essa discussão que, na verdade, representa, assim com as próprias revistas, um espaço a mais para uma não homogeneização no campo da criação artística e literária. Talvez a maior importância dessas publicações seja mesmo a de manter a diversidade de vozes culturais. É um espaço de resistência, sobretudo.
CULT - É fácil achar essas revistas no mercado ou os interessados ainda precisam "garimpar"?
P.S. - A bem da verdade, essas revistas quase não circulam nas livrarias tradicionais ou nas megastores. Por serem alternativas, feitas muitas vezes com recursos escassos ou bancadas por instituições acadêmicas e leis de incentivo, elas sofrem com a distribuição, o que no Brasil, quando o assunto é a não cultura de massa, já é algo para lá de comum. Contudo, quem está minimamente antenado com a produção literária contemporânea, em busca daquilo que quase nunca ou pouco sai em grandes veículos de comunicação, sempre vai esbarrar em alguns desses nomes de que falei, seja em sites de literatura ou blogs de escritores, seja em eventos de literatura, seja buscando publicar material artístico inédito (ensaio, ficção, poesia, artigo, foto, HQ, ficção, artes plásticas etc). Depois, se houver interesse pode-se garimpar com mais afinco na internet, ou buscar contatos com editores, que costumam ser bastante solícitos na divulgação de outras publicações, ou ainda falar com escritores que conhecem bastantes dessas revistas por publicarem nelas - em resumo: a coisa não pára. Acho que é como se faz quando se quer ler boa literatura em livros (e ela geralmente se encontra muito pouco divulgada na "grande mídia)": o negócio é garimpar. É meio como garimpar CDs, mp3, vinil para quem gosta de música: a gente vai ganhando enorme prazer em descortinar coisas novas. Eu, a cada título que descubro num país diferente, me entusiasmo como se tivesse encontrado um objeto raro.
IMPRESSÕES PAN-AMERICANAS
Local: Teatro do Paiol (Praça Guido Viaro, s/nº - Prado Velho - Curitiba - PR)
Entrada: francaInformações: (41) 3213-1340
Abertura
1º de agosto, às 20hPerformance poética "Jolifanto", com Ricardo Corona.
Primeiro encontro
1º de agosto, às 20h30minMarcelino Freire ( Entretanto e PS:SP) e Leo Felipe Campos ( Plátano Verde)
Mediador: Wilson Bueno
Segundo encontro
23 de agosto, às 20hRicardo Corona ( Medusa E Oroboro) e Reynaldo Jiménez ( Tsé-Tsé)
Mediador: Wilson Bueno
Terceiro encontro
20 de setembro, às 20hAdemir Assunção ( Coyote) e Ram Devineni ( Rattapallax)
Mediador: Ricardo Sabbag
Quarto encontro
17 de outubro, às 20h Claudio Daniel ( Et Cetera e Zunái) e José Kozer ( Et Cetera e Blanco Móvil)
Mediador: Wilson Bueno
28/07/2007
Pan-Americano Literário
Batalhado por Carolina Cruz às 01:43
Um comentário:
NOTA 10.
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