28/08/2007

Já indiquei aqui no Bloguerreiros o site do Clube de Criação do Paraná, que visito frequentemente. Mas hoje quero apresentar a vocês um artigo muito divertido e atual que muitos profissionais de publicidade vão adorar. O texto "Salvem a Idéia" foi escritor pelo redator Felippe Motta de Curtitiba, leia o texto na íntegra abaixo ou clique aqui para ler diretamente na fonte.

Salvem a Idéia.

Idéia, um nome um tanto quanto esquisito para uma coisinha tão pequena, nasceu às 3h46 daquela madrugada fria de Curitiba. Seus pais, orgulhosos, já esperavam fazia algum tempo sua chegada. Pra falar a verdade, estavam até meio preocupados com a demora. Mas nada disso importava agora. Ela estava ali, frágil, pequena, meio desajeitada ainda, mas com muita vontade de viver.


Era tarde e seus pais, apesar de exaustos, sabiam que não era hora para esmorecer. A partir do primeiro momento, cada segundo seria crucial. Logo, logo, chegariam os predadores e a devorariam, caso não estivesse de pé. Não, seus pais não estavam preocupados, a vida é assim mesmo: ou você anda sozinho ou é devorado vivo.

Mas ela não decepcionou. Após três horas e meia, seus pais finalmente conseguiram fazê-la ficar de pé. Agora, era só esperar os parentes chegarem para mostrar a pequena Idéia para todos. E foi exatamente isso que aconteceu.

Lá pelas 9h, chegou o avô, olhou para ela, abriu um grande sorriso e resolveu que, antes de mostrá-la para os outros, ela deveria ficar mais forte, mais viçosa. Explicou um pouco sobre os perigos dentro da família e sobre o mundo lá fora, falou sobre crueldade e essas coisas. Mas explicou também que, caso ela fosse forte o bastante, cresceria e se tornaria um grande Idéia.

Assim aconteceu, seus pais deram mais um tapas na pequena Idéia. Ela precisava ficar forte se quisesse ter a sua chance de crescer.

Lá pelas 11h, seu avô falou: “Idéia boa é assim, você dá uns tapas e ninguém mais derruba.” Dito e feito! Logo, logo, suas tias chegaram e quiseram ver como andava a Idéia. Tudo ia bem. As pessoas elogiavam a pequena Idéia que, a cada elogio, crescia um pouco. Mas, de repente, ela mancou uma vez. Foi o suficiente. Uma de suas tias, na real a mais chata e mal amada, soltou a seguinte pérola: “Olha, não que a Idéia não esteja boa, mas todo mundo aqui viu que ela mancou uma vez, estou sendo advogado do diabo, mas será que não poderíamos mexer um pouco nela?” Disseram que era pra deixá-la mais forte. Grande erro... Ela voltou completamente deformada. Já tinha perdido o brilho. Mesmo assim, merecia viver e foi pra frente.

Chegou o grande dia! Finalmente, a Idéia havia atingido sua maioridade e iria conhecer os pais adotivos. Estranho, ela havia mudado tanto com o tempo que não fazia mais parte daquele mundo. Precisava de uma nova família. E para que a passagem não fosse tão traumática, seus verdadeiros pais foram juntos para apresentá-la à nova família.

Chegando lá, todo mundo estranhou o ambiente, inclusive a própria Idéia. Pessoal formal, falando coisas que ninguém entendia. Bom, a Idéia havia chegado até ali e agora estava exposta. Mas já tinha atingido a maturidade, estava responsável e até um pouco sisuda. Por isso, de começo, agradou. Recebeu vários elogios e sentiu-se acolhida, finalmente havia encontrado o seu novo lar. O que ninguém esperava era que aquele pequeno charme congênito viesse à tona, justamente naquele momento: de repente, ela mancou. Ela não podia ter feito isso na frente da sua nova família. “Mas, fazer o que? Isso é normal, uma característica única, só ela tem, é de nascença” – disse o pai de sangue.

Nessa hora, as coisas começaram a ficar feias. Um rapaz, novo, esbravejou: “Ela não serve pra gente.” E assim, sem mais nem menos, deu uma rasteira na Idéia, que fez com que ela caísse de boca no chão e ficasse desfigurada pra sempre. Mas ela, como havia aprendido, levantou-se sozinha. Não funcionou! Começaram a mutilar a coitada da Idéia. Seus pais choravam lágrimas de sangue enquanto, impotentes, assistiam a tudo. O fim do cortejo se deu quando expuseram a Idéia, completamente desacreditada, ao chefão da família. Lá de cima do seu pedestal, ele ordenou: “Não é nada disso que eu quero pra minha família. Dê um fim nela.”

Seu pai mais novo não se conteve e, descrente, gritou impotentemente: “Salvem a Idéia!” O grito ecoou no vazio e, assim, acabou a saga da Idéia, mais uma mártir em uma crise que parece não ter fim.

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